Em junho do próximo ano o Brasil será sede do maior encontro internacional sobre meio ambiente, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, oportunidade em que novos desafios serão postos à nossa capacidade de conciliar o desenvolvimento industrial e tecnológico com a preservação da natureza. A chamada economia verde será analisada no contexto da erradicação da pobreza, e das leis e constitucionalidades visando ao desenvolvimento sustentável. O que se propõe é mostrar que economia e meio ambiente são interligados e viáveis, transformando o sistema econômico mundial baseado em grandes desperdícios e no uso de fontes de energia não renováveis num novo sistema baseado nas chamadas energias limpas.
No caso do setor industrial, temos muito o que avançar em áreas como o descarte e reaproveitamento dos resíduos sólidos, nas inovações tecnológicas e no tratamento de resíduos tóxicos e outras melhorias no processo produtivo.
As construções, segundo os estudiosos, são responsáveis por cerca de 40% de todo o consumo energético de um país e também com o mesmo percentual pela emissão de gases de efeito estufa. Se o ser humano consome 150% dos recursos naturais do Planeta, como também costumam dizer os especialistas, daí se pode deduzir a importância da indústria da construção civil avançar muito em termos de construção sustentável.
De acordo com o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), somente com a adoção de práticas sustentáveis de conservação e uso racional de recursos na construção civil é possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e água. A solução passa pelo planejamento, projeto, produção e uso, sendo necessário introduzir a idéia da reciclagem, absolutamente necessária. Este é um problema em que Estado e sociedade civil devem dar as mãos. No caso dos licenciamentos ambientais, por exemplo, precisamos de processos menos burocráticos e lentos.
Curitiba (Brasil), Bogotá (América Latina) e Portland (Estados Unidos) são cidades-referências em termos de cidades sustentáveis. Precisamos da mobilização social para o descarte dos resíduos industriais, sólidos e líquidos e o seu aproveitamento. O Sistema Fibra deixou sua marca no movimento Limpa Brasil! Let’s do it!, realizado em Brasília em agosto. Durante a semana, alunos do Sesi e do Senai vestiram a camisa dos catadores e, durante dois dias, as empresas localizadas no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA) receberam a visita de cerca de 80 jovens estudantes, que percorreram indústria e comércio num mutirão em prol do meio ambiente. Os empresários foram sensibilizados e convidados a fazer um bota-fora do lixo produtivo que há dentro das empresas, separando materiais recicláveis e reutilizáveis.
Mas o conceito não se aplica somente à construção civil. A adoção da sustentabilidade industrial além de ser uma medida ética e produtiva, também ganha um espaço cada vez maior em questão de aceitabilidade dos consumidores. Pesquisa desenvolvida recentemente pela União para Biocomércio Ético avaliou, em sete países, o nível de conhecimento sobre biodiversidade e revelou que, entre os 7 mil entrevistados, 84% afirmaram que deixariam de comprar um produto, caso soubessem que a marca não respeita o meio ambiente ou práticas comerciais éticas. Recentemente, ouvimos falar de uma indústria de vestuário que utiliza trabalho escravo e a sociedade se mobilizou contra o consumo da marca.
A indústria deve se preocupar e cuidar para que seus resultados se revertam em melhoria do bem-estar humano e equidade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a demanda sobre recursos escassos do ecossistema. Uso máximo de energia solar e eólica, de reaproveitamento da água, de reciclagem ou reutilização dos materiais, das condições de trabalho digno. A palavra de ordem é gerar tecnologias inovadoras, esverdear o canteiro de obras, promover um ambiente de negócios socialmente responsável, ampliar o propósito das corporações para além dos resultados econômico-financeiros. Investir em pessoas é o melhor negócio. Devemos trabalhar para que o setor econômico entenda que trabalhador feliz e saudável rende mais. Investir em ações de valorização do capital humano traz benefícios para os negócios e também para a sociedade como um todo.
Não há outra saída para um mundo sustentável.
Antônio Rocha é empresário e presidente do Sistema Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra)
Fonte: Sistema Fibra